quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Quem inventou esse tal direito de ir e vir?

Na vida,
Nem toda ida
É bem-vinda.

Vi(n)da

Amor da minha vida:
Deixo a ti
Minha ida.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O Tempo

O tempo passa depressa
E do presente se espaça
Antes que eu me despeça.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Penso

Penso muito.
Nisso e naquilo.
Penso e sinto.
Isso e aquilo.

Penso em esquecer.
Esquecer tudo.
Mas não dispenso nada
Que me faça

pensar em você.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Corpo Fechado

Já senti dor maior
Que a maior delas.
Dias em que o amor
Me cortava em pétalas.

De dentro pra fora,
As cicatrizes se abriam.
Cheias de vazio, sumiam
E levavam a esperança embora.

Sinto muito
Por toda dor que sinto hoje.
Sinto tanto
Que tento ver se ela foge

Porque sou tão forte
Quem nenhum corte
Vai se abrir
Pra ela partir.

Farewell

Esqueço
De você. De mim
Me despeço.

Scarred

Toda cicatriz
É um lembrete eterno
De que sou feliz.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Soa

Amor.
Quando sai da tua boca,
Me deixa seguro.

Tem um som diferente.
Soa como
Futuro.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O casamento da minha melhor amiga

O sim que hoje você diz,
Há 20 longos anos eu já o fiz.
E o tempo que andou com calma
É o que nos fortalece nesse amor além alma.

Na riqueza de sentimentos
E na pobreza de desentendimentos,
Estivemos fraternalmente casados
Sob os mais sinceros votos já jurados.

Nos aceitamos como os mais fieis irmãos,
Dispostos a consertar a quatro mãos
Todos os corações que se partiram pelo caminho
E apagar sem remorso todos os estranhos do ninho.

As lágrimas que nos fizeram derramar,
Hoje salgam as feridas abertas
De quem um dia se esqueceu do que é amar.

E as cicatrizes que hoje exibimos,
Não passam de lembretes íntimos
Da força que temos quando somos um.

Todas as estrelas que hoje estampam seu vestido,
Amanhã já terão virado pedidos.
E a felicidade que hoje de mim se apodera,
Aperta esse laço que nem mesmo a morte separa.

domingo, 14 de novembro de 2010

Eterno Retorno

Faz frio aqui.
Tão frio que não posso falar.
Tão frio que meu riso não ri.
Tão frio que me falta ar.

O coração parece meio morto.
Ou meio vivo.
O sangue corre meio torto.
Ou meio viúvo.

Tudo escuro.
É tanto escuro que me cega.
De olhos abertos ninguém enxerga.
De olhos fechados, é tudo meio claro.

A alma sai da alma.
Carne é o que resta.
Carne que infesta e destesta
A tão muda e tão branda calma.

É tudo vazio e intranquilo.
A poeira que se mexe, ensurdece.
As memórias disso e daquilo
Reviram e revoltam o que nunca a gente esquece.

Faz frio.
Um frio chamado vazio.
Que jorra aqui dentro
A cada vez que entro em mim.

domingo, 3 de outubro de 2010

Arrepia

No inverno da alma,
O arrependimento
Arrepia mais que o frio.

Esquecimento

Minhas memórias
Esqueceram de mim.
Todas.
Uma. Por. Uma.

Memórias passadas
Memórias presentes
Memórias futuras.

T.O.D.A.S

Amnésia generalizada.
Rostos familiares
Que se esqueceram de mim.
Um. Por. Um.

T.O.D.O.S

Será que quando todos
Lembrarem,
Terei eu esquecido de todos
Ou esquecido de mim?

Sinto

Sinto muito.
E o muito que sinto,
Pouco me sente.

Vírgula

Um coração meio vazio.
Ou meio cheio.
Vazio de presença
E cheio de vazio.

Vazio, vazio, vazio.
Vírgulas que me lembram
Que vírgulas são (apenas) pausas.

Ligeiramente lentas.
Lentamente dolorosas.
Vírgulas que separam desencontros
E desencontram reencontros.

Vígrulas, vírgulas, vírgulas.
Pausas que me lembram
Que sofrer não tem ponto final.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Haicai do Perdão

Um recomeço:
Rouba meu futuro,
É tudo o que peço.

Recente

Não faz muito tempo que eu aprendi
O que é amor.
Aqueles de filme. De não botar defeito.
Senti o efeito. Direito. Do lado esquerdo do peito.

Meses e meses em que o raio
Mais escuro da Lua foi
Mais claro que o raio
Mais claro do Sol.

Saudade quando você vai.
Saudade quando você fica.
Nós nunca somos só.

Eu sou nós. Sou seu futuro.
Você é meu presente.
Embrulhado e sem garantia.

Minha surpresa de cada dia.
Incansável.
Há nove curtos meses de um longo amor.

Última

Mudei. Da noie pro dia.
Mudei. Um dia. Uma vida.
Diferente da que eu tinha.
A que eu sempre quis.

9 meses. Passado. Presente.
Começo do futuro. Nosso.
Tantos pontos finais
E nenhum fim.

Uma noite de angústias.
Exaustão. Lágrimas em vão.
Culpa minha. Conserto sem
Conforto não existe.

Suspiros de arrependimento.
Dívidas e promessas a pagar.
Graças a Deus. Graças a ela.
Tosa segunda chance é sempre a última.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Abismo

O fundo que se vê
É mais fundo que o que não.
Certeza de fim. De limite.
Tão certo. Tão vão.

Grite num abismo. Espelho sonoro.
Ecoa.
Escuta e recua.

Quanto mais tempo se olha
Pra dentro do abismo,
Mais tempo ele olha pra
Dentro de você.

Eco. Espelho sonoro.
O abismo grita o vazio de volta
Pra dentro de quem o sente.

Coma(andante)

Sem pátria, sem medo.
Sou um comandante esquecido.
Tantas lutas travadas, tanto sangue derramado.
Memórias e fraturas expostas e nenhuma resposta.

Um comandante que se perdeu.
Louco. Desequilibrado. Fora de rumo.
Tantas histórias e lágrimas contadas.
Mais de mil. Menos de mil. Vil.

Vilão é o tempo que separa a carne do osso.
A alma do corpo.
Tic tac. Tic tac. O tempo é uma bomba relógio.
Os destroços futuros são as lembranças passadas.

Suado. Um comandante cansado.
Ainda calço as botas de combate. Desamarradas.
Derramadas.
O chão úmido expõe a brevidade da vida. Seca.

O vazio é o pior inimigo de um comandante.
Silêncio agudo. Corta mais que a lâmina da faca mais afiada.
Morfina. Não basta. Desista.
Comandante sem farda, sem arma, é coma andante.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Sem Métrica

Seus olhos de inverno,
Intensos e indiscretos,
Imensos e secretos,
Orbitam e congelam
Os espaços ao nosso redor.

Seus olhos de inverno,
Frios e vazios,
Nus e antigos,
Ventam e inventam
As memórias dos destroços
Disfarçados de abraços.

Seus olhos de inverno
Encharcados e retorcidos
Borbulham e mergulham em mim,
Em instantes distantes
E lagoas profundas.

Seus olhos de inverno,
Secos e chuvosos,
Fazem florescer sonhos
Em pingos de garoa
Que correm sobre mim
E escorrem como lágrimas
Que carregam o fim.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Salva-Vidas

Enfim, estou me afogando
Em mim.
Não me salvem.

Tão Pessoal

Tudo isso tem me rasgado
Por dentro.
Um passado engasgado vem todos os dias
Ao meu encontro.

Chagas imortais, feridas pessoais.
Um vazio ácido toma conta de mim.
Perdi as contas das vezes que mais
Desejei que fosse o começo do fim.

Tudo isso me doi na alma.
Não me peça calma,
Pois meu tempo já passou
E me fez esquecer quem sou.

O que mais quero agora
É brindar o futuro.
Dar o fora
E esperar do outro lado do muro.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Morto-vivo

Tenho morrido todos os dias.
Partindo sem despedida.
Transformando laços
Em desencontros.

Um buraco negro
Tomou o lugar do meu peito.
Pronto. O estrago foi feito.

A eternidade de cada segundo
Me faz lembrar que a pior,
E mais lenta morte,
É viver.

Um contra cem

Ah, o exército do tempo.
Elimina os minutos
Com uma astúcia desumana.
Nos torna reféns do destempo.

As marcas já aparecem em meu rosto,
Limitam meu ar.
O presente virou passado
E eu cansei de lutar.

Sou só um.
Um contra cem. Combatentes impiedosos
Que vivem num ataque iminente.
Sou só um. Contra cem. Sem ninguém.

Presente do passado

Estou atrasado.
Meu presente dos sonhos
Vive no passado.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Palavras Perdidas

Palavras perdidas.
Só restamos eu e minhas
Paixões ressentidas.

Se hoje

Se
hoje
sou
é
porque
um dia
fomos.

Se
hoje
(só)
estou
é
porque
você se foi.

Até

Eu
até
poderia
fingir
que
acabou.

Que
você
não
existe
mais
e nada restou.

Eu
até
poderia
fingir que não,
mas sem você
não sou.

Nós não

Nós não vamos esquecer
De como o mundo girou
Naqueles dias.

De como o vento soprou
Em melodias
O frio que congelou o tempo
Em nossas mentes.

Nós não vamos esquecer
Dos rostos tampados
E do amor estampado nos lenços
Que guardaram nosso sofrimento estancado.

Nós não vamos esquecer
Que, pra esquecer de tudo,
Teríamos que esquecer de nós.

Diferente

Noite diferente.
Desejo uma a cada
Estrela cadente.

Não Cabe

O amor não me cabe
Mais no peito.
As portas que se abrem
Escondem o mundo que invento.

Aqui vamos nós de novo,
Iluminando essa noite maravilhosa
E desejando uma madrugada diferente
A cada estrela cadente.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Faces In Disguise

Faces disfarçadas.
Lágrimas sem dono
Em tristezas empoçadas.

Deixa, deixa...

Uma mente sã
Vive o presente e deixa
O futuro pra amanhã.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

morto-vivo

Indesejado ente
É o fantasma do passado
Que assombra o presente.

O vazio que sobra

Tem espaço de sobra
No meu coração.
Devo me preocupar ou não?

sábado, 12 de junho de 2010

Venta Aqui Dentro

Coração de vento.
Bombeia por todo corpo
Um amor que invento.

sábado, 29 de maio de 2010

Sós(ou)

Escuro sem fim.
Nessa vida a solidão
Se esconde em mim.

.Ponto.

Escuro tem fim.
Ao teu lado a solidão
Se esconde de mim.

ando, endo, indo...

Estou (sempre) pra acontecer.
Na minha mente reticente
Aprendo a me desconhecer.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Vinteeoitodemaiodedoismiledez

A verdade de hoje
Manchou a de ontem.

Luto

Numa paleta de dores,
O luto tinge de preto
Todas as cores.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O Anônimo

Meu presente pro mundo
É minha ausência.
O vazio do buraco mais fundo
É que garante minha existência.

Parto a cada minuto
E volto no minuto seguinte.
É como se nunca estivesse aqui,
Nem nunca quisesse estar.

Mantenho a realidade
Em suspensão.
Sufoco a vitalidade dessa camada de vida
Em coma induzido.

A solidão me preenche.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Dia/Ida

Eu poderia
escrever uma poesia
por dia,
uma
por ida

E esquecer
da dor
de cada
despedida

Das lembranças
de você
despida
na avenida dos sonhos.

As memórias
reconstróem
histórias
histéricas
de personagens cadavéricas

Que somem
num mar
de sêmem natimorto,
preso num eterno porto
de portas soldadas

E soldados
por todo o entorno
que apagam o contorno
e liquidam meu conforto.

Eu poderia
escrever uma poesia
por dia
E nem assim,
Meu coração se livraria de mim.

No Cio

A cama vazia
Treme inteira de frio
Sem você no cio.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

De Quem?

Levei o dia inteiro
Pra perceber que o futuro
É de quem chega primeiro.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

O Lado Bom

O tempo que me marca
O rosto
Foi o mesmo que me mudou
De posto.

Aquele antigo presidente
Da minha vida fora deposto.
Reina hoje um menos exigente
E muito mais disposto.

Imposto não é mais nada.
Tudo é permissível,
Absolutamente questionável.
Intransponível não é mais nada.

Tá saindo o caminhão da mudança,
Que vai embora, mas me deixa a lembrança
De que o lado bom de mudar,
É mudar, simplesmente.

terça-feira, 11 de maio de 2010

O Silêncio de Quem Ficou, Doi Mais que o de Quem se Foi.

Ausência não sorri.
Você partiu,
Mas continua aqui.

Shh

Buzinas,
Conversas,
Discussões,
Palavras dispersas.

O motor dos carros,
O estresse de quem para.

Um sorriso gritado,
Um indeciso calado.

Amo esse silêncio
Aqui (dentro).

Canseira

Quando canso de esperar,
Não (des)espero.

Sobre o Futuro

nadasei
nadasei
nadasei
nadasei
nadasei
nadasei
nadasei
nadasei
nadasei
nadasei
nadasei
nadasei
nadasei
nadasei
nadasei
nadasei
nadasei
nadasei
nadasei

sábado, 8 de maio de 2010

Duplamente Consequente

A quatro mãos,
Espero reconstruir
Este velho coração.

Infinito a Dois

Oito deitado
Vira infinito
Ao teu lado.

VÃO (sou)

Livre como vão.
Triste, como não?

De Mudança

Caíram as flores.
Na chegada do inverno
Se vão os amores.

Sem Mobília

Coração vazio
No inverno da alma
Treme de frio.

Passados Amores Futuros

Memórias passadas,
Lembranças enterradas,
Sentimentos entrelaçados.

Química repassada,
Sensações resgatadas,
Encontros sincronizados.

Quem foi parte
Do meu passado,
Agora se mostra a certeza do meu futuro.

Passo 1

Em um passo,
Dois braços viraram
Um abraço.

Dois Meios

Sou felicidade,
Pois com você
Deixei de ser metade.

Chovo

Uma nuvem no céu
Esconde o Sol
E quem chove sou eu.

Haicai da Madrugada

No (meio) da noite
O escuro da sua ida
É meu eterno açoite.

Destempo

Quero as coisas no meu tempo.
Andando em fila,
Equilibrando o destempo.

Joguei as incertezas no ralo,
Abri a torneira
E me afoguei num interno embalo

De trocar o ar do passado
E os suspiros que tenho dado,
Por intensas imersões no futuro.

Fresta

Estrela cadente,
Rasga o céu do passado
E me dá essa noite
De presente.

Tempos Difíceis

Foram tempos difíceis.
Equinócios eternos,
Dores miscíveis.
Vilão silencioso, trajado em terno.

Escuros foram os dias. Todos.
Autofagocitação
Sem que ao menos minha alma
Pedisse permissão.

Estar triste não é
Permissível.
Muito menos
Impossível.

Recuperar-me
Parecia impensável.
Mas o esforço
Era imensurável.

terça-feira, 4 de maio de 2010

INFINITO menor

Eu já quis ir embora daqui.
Partir pr'uma outra,
Me esconder da minha própria sombra,
Assombrar o vazio que me sobra.

É difícil quando você
É o inverso de você mesmo.
Quando tudo o que você crê,
São apenas memórias a esmo.

Eu já quis ir embora daqui.
E andar por aquelas ruas
Onde parece ser sempre final de semana.
E cantar com o Sol que nunca se põe.

Vagar por aí, sem (precisar) seguir o fluxo.
Pegar o ônibus especial
[Ou até mesmo um espacial
E parar no ponto mais alto, onde o passado não venta.

Eu já quis ir embora daqui.
E terminar num lugar onde sorrir não me rasgue a boca,
Onde todo beijo seja de "oi"
E cada despedida revele um novo (re)começo.

Andar ao lado de quem vive de apreço,
Sem pressa, sem preço.
Onde o perdão se pede e o mal se perde,
Onde a luz no fim do túnel é apenas o começo.

Eu já quis ir embora daqui.
E minha vontade foi infinita.
Mas meu desejo de ficar,
Foi infinitamente MAIOR.

Terminal Pq. D. Pedro II

As ruas estão cheias
De vazio.
As cabeças de estresse,
Por um fio.

O mar de aço que antes
Era frio,
Agora borbulha sob a
INFINITA

Hora do rush.

Sem

Sem você
A vida é assim:
Como se os dias começassem
à noite
E a noite
Não tivesse









Fim.

domingo, 25 de abril de 2010

Dois Sóis

O Sol ilumina
O dia que amanheceu
E você ilumina o meu.

Astronauta Em Dias de Chuva (Meu Primeiro HAICAI)

Nas poças da rua,
Viajo no cheiro da chuva
E piso na Lua.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

As Melhores Coisas do Mundo

Só existo quando me escondo nas brechas do tempo,
Dentro de pensamentos rendidos, de lacunas que invento.
Sem traços da realidade, sem medo, sem posteridade.
A cada sutil possibilidade de botar os pés no chão,
Me perco de mim, sumo de vista, me encho de vão.

Todas as minhas cópias que se apegam ao fim,
Apagam-se a si mesmas, enfim.
E quando procuro por mim, não existo mais.
Clones vão sucumbindo e eu vou subindo,
Rumando e cantando em direção à paz.

A Terra vai se perdendo num azul cintilante,
Meus olhos buscam aquele crepúsculo antigo.
O coração já não mais bate, nem apanha,
Vai parando no compasso de quem ganha,
[Um lugar ao Sol
Dançando no passo de onde a vida se esvai.

Grão a grão a areia vai descendo,
Empurrando a alma por uma ampulheta imaginária,
Desprendendo as memórias e rasgando o peito.
Segundo a segundo, uma luz vai cegando
E minha subida pela escada alada é interrompida.

[São eles, como poderia me esquecer? Meu cordão umbilical com a vida real.

Todas as melhores coisas que errôneamente
Fui procurar num outro mundo qualquer,
[E não me culpo, nem me desculpo.
Pensando que de mil problemas me furtaria,
Agora vejo que estão todas
Aqui.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Pessimismo Poético

Quem é vivo sempre perece.

sábado, 17 de abril de 2010

De costas

Ultimamente, todos os nossos beijos têm sido de tchau.

Autoesquecimento

Autoconhecimento sem

[O nosso
Consentimento,
Deveria vir sem sentimento.

Entretanto, vem encharcado dele.
Entre tantos, fica difícil separar a carne, da pele.

[E o corpo, da alma
Aprender a nós mesmos, nos ensina a desaprender,
A se arrepender.

Memórias em caixas empoeiradas,
Retratos austeros em gavetas mofadas.
Quanto mais aprendemos de nós,
Menos nos (re)conhecemos.

Autoconhecimento é autoesquecimento.
Palimpsestos em muros de cimento.
Mal enxergo quem sou,
Mal enxergo quem fui.

Terei ainda, uma vida que posso
Chamar de minha?
Serei eu,
Só uma lembrança de mim?

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O Poço do Fundo

O fundo do poço é mais fundo.
Tão profundo
Que nem a imaginação alcança,
Que até a invenção se cansa.

O poço do fundo é este mundo.
Inquieto por si só.
Presente e inconstante e profundo.
Faz a cabeça dar nó.

O fosso que nos apresenta à fossa.
O passo que se passa em vão,
Em direção à funebre marcha
Que conduz o coração.

"Tudo o que passa,
Tudo o que dura,
Tudo o que duramente passa
Tudo o que passageiramente dura"

O fundo do poço não dá pé.
Começa nesse mundo e acaba num outro qualquer.
Faz fronteira com o céu.
Separado apenas por 7 palmos de terra.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Swiss Cheese

Buracos, buracos e buracos.
É disso que sou feito.
Sulcos e ausência.
Buracos, buracos e buracos.

Retratos opacos,
Entraves retráteis.

Sangue que corre, que escapa.
Herói natimorto. Sem capa. Com acento.
O bem que morre, o mal que estripa.
Ser feito e desfeito. Sem despeito.

Buracos e pensamentos jogados.
E mais alguns buracos.
É disso que sou feito.
Confusões, confissões e esconderijos escuros.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Meia Noite

Meia noite
Noite e meia
Minha.

Note a noite
Noite e noia
Meia meia.

Noite nota
Nota em mim

Essa noite
Não tem fim.

terça-feira, 16 de março de 2010

Bloqueio

Tentarei fazer deste,
Meu bloqueio mais criativo,
Meu impasse mais defectivo,
Meu ato pensado mais impulsivo.

Vomitá-lo-ei, em frases curtas,
Em paráfrases enxutas
[E me fartarei das
breves (e incorretas) condutas.

Tudo o que se esconde de mim,
Desafia
[e se desvia
do já previsto fim.
Tudo o que a mente traçou,
Trançou-se e escorregou.

Eu continuo o mesmo:
Vazio de excessos,
Andando por cima das rimas e
Afogado em regressos.

Eu continuo o mesmo:
Guiado pelo progresso, mas
Bloqueado sob
[o inexistente e insistente
sol do infortúnio.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Ilhas & Glaciais

Imploro pelo meu último pedaço de sanidade.
Me desfaço de todos os sonhos de diamante,
Das memórias de ouro e dos casacos de couro.
O que me resta nesta festa sou só eu.

Esse constante conflito entre um ser aflito
E um ser humano,
Volta de ano em ano.
Revolta em pleno jogo. Até quando soar o apito.

Me despi de toda a coragem,
Mergulhei nessa viagem sem querer.
Não sei nem sequer mais voltar,
Se a vida aprendeu a voar e isso é só uma miragem.

Imploro pelo meu último pedaço de sanidade.
Escondido sob esse medo inerente de ver tudo passar,
[ir passando,

E isso ficar...

Lacuna

Amor é o hiato entre a razão e a insanidade.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Quando Chove

Antigamente você tinha o mapa das nuvens.
Caravelas de vento, infinitas viagens.
De trovões tirávamos fotografias,
Sem portões exauríamos nossa alegria.

O crepúsculo seus olhos pintava.
De vermelho, laranja e azul.
Cor de fim de tarde. Horizonte nu.
Esperança e intemperança.

A chuva caiu sem saber porque.
Encharcou os campos e o parque.
Trouxe aquele cheiro de mato úmido,
E todas as lembranças que carrega esse banco tímido.
[E esses versos...

A chuva caiu sem saber porque.
Escureceu o céu e clareou as memórias.
Refez as histórias. As nossas e só nossas.
O cheiro do mato úmido ainda se mistura com o seu perfume tímido.
[Sempre que sento no nosso banco.
Seu e só seu. Pra sempre. Nosso e só nosso.

(...)

quarta-feira, 3 de março de 2010

Aqui

Um sibilo insistente se fez presente
No instante em que você partiu.
Fiquei de peito aberto, vazio.
Me roubou o ar, a solidão desse eterno repente.

O silêncio da alma ensurdeceu os vizinhos.
Chegou de surpresa, veio de mansinho.
A porta que bate não traz você de volta.
Na porta, quem bate, é o som da minha revolta.

Como pode um amor,
Um dia arrebatador,
Fugir acovardado?
Estive eu, sonhando acordado?

A questão é que um coração que amou
Se divide em dois.
Fica metade com quem sou e metade com quem me dou.
Presente do peito, pra agora e depois.

Se hoje, não dividimos mais o mesmo centro,
Fique sabendo que você
Ainda existe. Aqui.
(Dentro).

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Ala

Não aceito menos que seu inteiro.
Você e todo seu todo.
Seus descasos e seu cheiro.
Eu com o seu eu, do seu modo.

Quero seus momentos de aflição,
Seus ataques de amor e paixão.
Faço questão das suas estranhices,
Das suas manias e todas as maluquices.

Ainda sim, quero todos os seus poros,
Seu corpo de ponta a ponta,
Pra navegar pelos dois polos e cair no seu colo.
Desejo seus segredos e o modo como você os conta.

Não aceito menos que seu inteiro,
Seus quadros pintados na parede da sala.
Nossas escovas de dente no banheiro,
Nossos corações batendo no mesmo compasso, na mesma ala.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A Breve Rotina De Um Grande Homem

Trabalhando. Estudando. Namorando. Nada de descanso. Escrevendo. Sentindo calor. Suando. Brigando com São Pedro por causa da chuva. Chegando em casa molhado. Batendo o guarda chuva no poste. Andando em ônibus lotado. Lamentando a vida. Tentando ser feliz no tempo que me resta.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Caixa Preta

Quem nunca fez um balanço de si mesmo?
Pegando momentos aleatórios, memórias a esmo?
Relembrando registros passados,
Resgatando aqueles velhos anos dourados?

Quem nunca viveu a vida de trás pra frente?
Andando de costas, dando de ombros para quem enfrente?
Olhando pelo retrovisor e abrindo o teto solar,
Curtindo a ventania da rotina, sem medo de se machucar?

Quem nunca fez tempestade em copo d'água
E trovejou com força em cima de uma velha mágua?
Chovendo insistentemente sobre o chão já seco,
Tentando encontrar uma saída naquele mesmo beco?

Quem nunca esperou o telefone tocar de novo
E se surpreendeu com o fato desse mundo ser um ovo?
Indo ao encontro daquela mesma lembrança,
Jogando com a sorte, sem esperança?

Quem nunca pensou em abrir sua própria caixa preta
E teve medo de reescrever o passado à caneta?
Quem pensa constantemente em fechá-la para toda a eternidade
E deixar que os escombros do presente camuflem a posteridade?

A Vitória

Meus joelhos tremem.
Abalaram-se com a solidão.
Meus olhos ardem.
Fui cegado pela escuridão.

Assopro alguns cortes,
Traço novos planos.
Vou rumo ao norte,
E assim se passam os anos.

O tempo está chuvoso,
Como previsto.

O tempo está chuvoso,
Mas eu não desisto.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Quando a saudade me pega em cheio, / Vou pra terceira margem do rio. / Procuro abrigo em teu seio, / Fico vazio.

Carnaval (Não Se Faz Mais Amigos Como Antigamente)

Chega de fantasias, de calor
Em demasia.

Me cansei dessa experiência,
Dessa incrível inconsistência
E dessa imbatível falta de
Elegância.

Que se foda o sexo frágil,
Que se exploda o mais ágil.

Vão sozinhos desfilar pela avenida,
Acabar com a fome do mundo e,
Em seguida, se esquecer de que a
Vida recomeça na segunda.

No carnaval nunca se está só.
No carnaval sempre está sol.

E as máscaras vão caindo,
Enquanto a música vai tocando.
No ouvido, o som vai explodindo.
No coração, fica só aquele
Zumbido.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

as coisas não são DESSE tamanho.

Uma, duas. Até mesmo três
Dimensões.
Espaço-tempo relativo, em vez
De imersões.

Estradas que levam a um
Lugar comum.
Destino que sela o caminho a
Lugar nenhum.

Grandes interpretações, infinitas
Transformações.
Sentidos literários, memórias aflitas,
Transmutações.

Felicidade escondida em
Tristeza.
Surpresa rendida sem
Destreza.

Problemas que se escondem
Debaixo da cama.
Assombram e assopram
A esperança que chama.

Traumas trancados em
Jaulas.
Remorsos trançados em
Salas de aula.

As sombras que dançam em
Valsa,
Não vão mais ventar ou inventar
Outra causa.

Viver não é
Tão
Estranho. As coisas
Não são DESSE
Tamanho.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Inverneiam e Iluminam

Entre os lençóis
Brilharam,
Um milhão de sóis que
Apagaram

Cada um de nós,
Que a sós e
Trançados
Em complexos nós,

Não passa de perplexos
Reflexos inversos
Da solidão que
Inverneiam o vão,

Iluminam
O
Coração e se
Vão.

Cedo e Sentado

Voltei ao passado e olhei
Em frente
Procurando quem enfrente,
Sem medo latente,
Os monstros da gente.

Tentei entreter o presente
Para não parar de repente
E deixar a diferença evidente
Entre ter e ser.

O futuro é incerto
E, decerto,
Implacável.
Meu futuro é ser certo
E, de perto, infalível.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Meu Futuro Me Condena (Monólogos De Um Assassino Póstumo)

Olhei pra trás
Procurando me conhecer
E reconhecer,
Mas não encontrei nada mais,
Nem mesmo quem costumava ser.

Serei eu
Um assassino eterno,
Trajado em terno,
Que do futuro se esqueceu
E no escuro do passado faleceu?

sábado, 30 de janeiro de 2010

Se eu falei destino foi sem querer

Já vi esse filme antes.
É sobre um tal de destino.
Promessas gigantes,
Flores, igrejas e um sino.
Felizes semblantes,
Convicções em forma de hino.
Católicos e protestantes,
Praticantes do amor inteirino.
Passam a vida esperando o dia D,
Quando a vida vai se encarregar de
Tudo e unir quem realmente se vê
Juntando as escovas de dente num apê
De dois dormitórios, com papel de parede em degradê.
Foi-se o tempo dos encontros programados,
Dos amores e desamores vividos,
Dos beijos roubados e mistérios desvendados.
Só se fala em desventuras rendidas,
Perspectivas invertidas
E grandes situações repetidas.
Quem eu quero encontrar mora perto,
Transita pela rua debaixo e pelo meu peito.
Sei como se veste, o que detesta e se estou certo
Quanto ao que se passa dentro de seu universo incerto.
Sei o que deixou de gostar, se morreu ou só está quieto.
Quem eu quero encontrar está me esperando logo ali e eu tô esperto.
Já vi esse filme antes.
É sobre um tal de destino.
Vou rápido mudar de canal
Pra parar de achar que meu amor é banal
E a vida tem o poder de construir um belo casal,
Encher de flores o quintal
E encontrar meu amor no meio desse vendaval.

Telefone (Do Lado de Lá)

Coincidentemente, oito números em formato
De espelho.
Mentalmente formado.
Um palíndromo numericamente exato,
Discado com o dedo indicador no meio da madrugada.

Quatro pra lá e quatro pra cá,
Do quarto de cá pro quarto de lá.
Um quadro riscado num cenário
Arriscado.
Chama uma vez, uma só e pronto.

Uma palavra que me faz dormir em paz,
Minutos de um presente fugaz,
Certezas de um amor que não se vai jamais.
Incertezas de um futuro que demorou demais,
Memórias de um passado que ficou pra trás.

Passaram-se 15 minutos e o futuro chegou.
A felicidade que chamou.
De uma vez por todas,
Quero acreditar que dá.
Que meu amor mora do lado de lá.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A Verdade é que...

(...) Não posso dizer que te amo / Para sempre, meu bem, / Pois o tempo passa / E o amor também.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Meu Futuro Tem Saudades de Você

Sua ausência criou um novo tempo:
Presente imperfeito.
Agora, cada pedaço do meu antigo coração
De aço sente falta do teu peito.

Entre voltas e revoltas pálidas,
Ouço tua voz atrás da porta,
Faço planos pra uma missão falida,
Grito tanto que meu pulmão não me suporta.

Meus limites estão cercados por muros,
Linhas imaginárias onde não mais se crê
Que mesmo lá de longe, com um simples murmuro,
Meu futuro tem saudades de você.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Transplante Puramente Sentimental

Amores antigos, amores passados.
Eu digo: é caso pensado.
Plano armado pelo coração,
Armadilha macabra, carta marcada.

Movem-se com o tempo,
Permeiam os momentos,
Tornam-se tormentos,
Torneios de solidão.

Meu coração é o mesmo.
É mesmo.
Machucado e com falta de ar.
Alguém aí quer trocar?

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Monólogo

Eu sou feito de frases feitas,
De planos desfeitos,
De plenos defeitos,
De prantos e invernos intensos.

Me descubro em versos inversos,
Em reversos diversos,
Em progressos discretos,
Em processos secretos.

Reinvento o mundo em segundos atrasados,
Em um futuro passado,
Em dois minutos pensados,
Em telhados furados.

Me entendo em equações indefinidas,
Em orações reduzidas,
Em memórias caladas,
Em vidas passadas.

1

Um é o começo de tudo.
Ou só o começo mais recente.
O início do futuro da gente,
Sem grandes planos, como
Num filme mudo.

Não me atraem os diálogos,
Nem mesmo a câmera e seus
Jogos.

Não me comovem os altos prantos,
Nem os atores tantos.
Somos só dois. Somos o que precisamos.

Um é o começo de tudo.
Nosso começo mais recente.
Nosso próprio filme mudo.
Palmas pra gente.

Para Iris.

A.G.O.R.A

Eu quero viver o resto da vida assim:
Como estou neste exato momento.
Nesse espaço-tempo-presente,
Que ganhei e guardei de enfeite.

Quero sentir esse mesmo amor que sinto agora.
Gritar meus pulmões pra fora, chamar o nome
De quem me adora e viver o resto dos meus dias
Olhando o tempo passar num relógio psicológico.

Quero lembrar de todas as alegrias e todas as tristezas
De que me lembro agora, até meu último respirar.
Esgotar minha memória pra recuperar as memórias
Perdidas nessa amnésia involuntária.

Quero estar vestido exatamente como estou agora:
Com a camiseta que cai melhor em mim,
Com esse jeans lavado e rasgado assim
E com esses tênis que pisaram o mundo que piso, enfim.

Eu quero viver o resto da minha vida assim:
Olhando pra frente e pensando que o agora
É o único momento que dura
Pra sempre.

O Vento Levou (O Sofrimento)

Uma flor nasceu.
Entre berros e enterros,
Choros e coros,
Prantos e desencantos.

Uma flor nasceu
E calou o silêncio.
Seu perfume no ar escreveu
Por extenso

A dimensão da eternidade
Que acaba de começar
Dentro do coração de quem
A tristeza se esqueceu de lembrar.

Além Alma (Vida longa a Paulo Leminski)

De lágrimas é feito o amor,
De felicidade ou de dor,
Carregam todo o sal
Desse oceano de amor colossal.

De vez em quando, em vez de tombo,
O difícil é alcançar o fundo.
É tanto espaço vazio, tanta água e tanto frio
Que até os peixes nadam pro leste
E os pássaros: nem um pio.

Pra que me serve essa imensidão,
Se o amor que, de tão, tornou-se vão?
Pra que me diz que não
E continuas aqui, então?

Vá em frente e me enterra nessa imersão.
Amarra meus pés no chão e me mostra
Que, além de me fazer viver,
Quem vai me matar
É meu coração.

(Des) Encontro

Um dia desses vou sair voando.
Na melodia das folhas,
No assobio do vento,
Na sinfonia da chuva.

E quando eu for,
Não volto mais.
Vou pra bem longe,
Onde não haja ar,
Onde não haja paz.

Vou me fartar dos excessos,
Me perder em regressos
E desescrever esses versos.

Só depois de curar essa dor
Que dói lá fora, só assim
Vou poder, finalmente,
Voar pra longe e pousar em mim.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Século XXI

Pílulas, placebos e tarja preta.
Do inferno ao inverno
E ao inverso do planeta.

Medicina, psicanálise e terapia.
Antes de ficar louco e mijar na pia,
Fujo de casa, vou pra Bahia.

Hipnose, acupuntura e comprimidos.
Essa dor na coluna, esse trabalho cumprido.
Mais uma dose e a viva a contracultura.

Drogas, tratamento de choque e pensões a pagar.
Nessa vida quem vive, já morreu.
Nessa vida minha cura,
Sou eu.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O Mundo Cresceu

Quando criança,
De uma trombada de nuvens
Nasciam trovões.

De uma mentira sincera,
Nasciam verdades.

Quando criança,
De uma besteira caseira,
Nasciam sorrisos.

De um amor profundo,
Nasciam amores mais
Profundos ainda.

Que pena que o mundo cresceu.

Cântico do Esquecimento

Um dia desses, encontrei na rua
Um clone meu.
Absolutamente idêntico.
Tinha as mesmas roupas que eu.
Uma sintonia excêntrica.

Voltei pra casa e encarei
O espelho.
Aquele sim era eu.
Redundantemente idêntico.
Irrefutavelmente diferente.

Todos os dias,
Sou vários.
Mas quando procuro por mim,
Não existo mais.

Barcelona

Eu não escrevo.
Apenas deixo a poesia
Se escrever sozinha.

De Mudança (Para Sempre)

Suas mãos ainda pesam sobre
Meu peito.
Sua voz ainda dança em círculos com
O vento.

A cama parece não ter
Fim.
Meu sofrimento também se sente
Assim.

Aquele vasinho de violetas,
Ainda rego.
Mas meus olhos secaram de tanto
Pranto.

Um dia desses abri meu
Peito
E escutei um som suspeito:
Som nenhum.

Num instante repente,
O céu se abriu, o chão caiu
E eu subi num voo chocante
Sem destino aparente.

(...)

Suas mãos agora repousam sobre
Meu peito.
Sua voz ecoa ouvido adentro
Numa valsa de redenção.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Se eu ficar as coisas vão melhorar?

Ontem choveu 15 dias.
Sem trégua aparente,
Como um longo repente,
De longas sentenças e
Orações frias.

O céu não vai mais abrir,
O sol não vai mais sorrir.
O guarda-chuva é pequeno demais,
A tempestade agora corre atrás.

Antes eu trazia um motor no lugar
Do peito.
Afogado, seu barulho não afasta
Nem a mais nefasta formiga que
Repousa sobre os ponteiros do relógio.

O tic tac do passado mantém
Meu corpo sentado e declama
Em duas sílabas o sibilo do silêncio,
Intenso como o mais sóbrio grito,
Como há de queimar um incenso.

Creio que seja a hora de parar
De tentar me entender, de descobrir
O fundamental e guardar todo esse mistério
Num fundo mental.

Se um dia me julguei culto,
Joguei com insultos e bati a porta,
Hoje durmo com a revolta e à espera
De um vulto ou da tua volta.

Vivórcio

O barulho é dos gatos
Andando na calha.

Dos raios cortando o céu.

As memórias são do seu vestido
Branco,
Seu sorriso brando
E um
Véu.

Começo

Quando acordei,
Notei você ao lado meu.

E, naquela hora, enquanto
Esperava o Sol nascer,
Quem nasceu fui eu.

Fora de órbita

Resolvi sair pra descobrir
O mundo em si.

Só preciso fugir do mundo
Que há em mim.

Cabeças de domingo

Ah, as manhãs de domingo.
Nem preciso olhar
Pro lado

Pra adivinhar
Que o dia nasceu
Nublado.

Ano Novo

Outro ano começou.
Mais um presente
De liquidação.

Não aceitam trocas,
Nem devolução.

Por que escrevo?

Fazer poesia é descobrir o mundo que se esconde do mundo que há em nós.

Pra Depois

Essa cama / Pra dois, / Fica melhor / Pra depois.