sábado, 30 de janeiro de 2010

Se eu falei destino foi sem querer

Já vi esse filme antes.
É sobre um tal de destino.
Promessas gigantes,
Flores, igrejas e um sino.
Felizes semblantes,
Convicções em forma de hino.
Católicos e protestantes,
Praticantes do amor inteirino.
Passam a vida esperando o dia D,
Quando a vida vai se encarregar de
Tudo e unir quem realmente se vê
Juntando as escovas de dente num apê
De dois dormitórios, com papel de parede em degradê.
Foi-se o tempo dos encontros programados,
Dos amores e desamores vividos,
Dos beijos roubados e mistérios desvendados.
Só se fala em desventuras rendidas,
Perspectivas invertidas
E grandes situações repetidas.
Quem eu quero encontrar mora perto,
Transita pela rua debaixo e pelo meu peito.
Sei como se veste, o que detesta e se estou certo
Quanto ao que se passa dentro de seu universo incerto.
Sei o que deixou de gostar, se morreu ou só está quieto.
Quem eu quero encontrar está me esperando logo ali e eu tô esperto.
Já vi esse filme antes.
É sobre um tal de destino.
Vou rápido mudar de canal
Pra parar de achar que meu amor é banal
E a vida tem o poder de construir um belo casal,
Encher de flores o quintal
E encontrar meu amor no meio desse vendaval.

Telefone (Do Lado de Lá)

Coincidentemente, oito números em formato
De espelho.
Mentalmente formado.
Um palíndromo numericamente exato,
Discado com o dedo indicador no meio da madrugada.

Quatro pra lá e quatro pra cá,
Do quarto de cá pro quarto de lá.
Um quadro riscado num cenário
Arriscado.
Chama uma vez, uma só e pronto.

Uma palavra que me faz dormir em paz,
Minutos de um presente fugaz,
Certezas de um amor que não se vai jamais.
Incertezas de um futuro que demorou demais,
Memórias de um passado que ficou pra trás.

Passaram-se 15 minutos e o futuro chegou.
A felicidade que chamou.
De uma vez por todas,
Quero acreditar que dá.
Que meu amor mora do lado de lá.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A Verdade é que...

(...) Não posso dizer que te amo / Para sempre, meu bem, / Pois o tempo passa / E o amor também.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Meu Futuro Tem Saudades de Você

Sua ausência criou um novo tempo:
Presente imperfeito.
Agora, cada pedaço do meu antigo coração
De aço sente falta do teu peito.

Entre voltas e revoltas pálidas,
Ouço tua voz atrás da porta,
Faço planos pra uma missão falida,
Grito tanto que meu pulmão não me suporta.

Meus limites estão cercados por muros,
Linhas imaginárias onde não mais se crê
Que mesmo lá de longe, com um simples murmuro,
Meu futuro tem saudades de você.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Transplante Puramente Sentimental

Amores antigos, amores passados.
Eu digo: é caso pensado.
Plano armado pelo coração,
Armadilha macabra, carta marcada.

Movem-se com o tempo,
Permeiam os momentos,
Tornam-se tormentos,
Torneios de solidão.

Meu coração é o mesmo.
É mesmo.
Machucado e com falta de ar.
Alguém aí quer trocar?

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Monólogo

Eu sou feito de frases feitas,
De planos desfeitos,
De plenos defeitos,
De prantos e invernos intensos.

Me descubro em versos inversos,
Em reversos diversos,
Em progressos discretos,
Em processos secretos.

Reinvento o mundo em segundos atrasados,
Em um futuro passado,
Em dois minutos pensados,
Em telhados furados.

Me entendo em equações indefinidas,
Em orações reduzidas,
Em memórias caladas,
Em vidas passadas.

1

Um é o começo de tudo.
Ou só o começo mais recente.
O início do futuro da gente,
Sem grandes planos, como
Num filme mudo.

Não me atraem os diálogos,
Nem mesmo a câmera e seus
Jogos.

Não me comovem os altos prantos,
Nem os atores tantos.
Somos só dois. Somos o que precisamos.

Um é o começo de tudo.
Nosso começo mais recente.
Nosso próprio filme mudo.
Palmas pra gente.

Para Iris.

A.G.O.R.A

Eu quero viver o resto da vida assim:
Como estou neste exato momento.
Nesse espaço-tempo-presente,
Que ganhei e guardei de enfeite.

Quero sentir esse mesmo amor que sinto agora.
Gritar meus pulmões pra fora, chamar o nome
De quem me adora e viver o resto dos meus dias
Olhando o tempo passar num relógio psicológico.

Quero lembrar de todas as alegrias e todas as tristezas
De que me lembro agora, até meu último respirar.
Esgotar minha memória pra recuperar as memórias
Perdidas nessa amnésia involuntária.

Quero estar vestido exatamente como estou agora:
Com a camiseta que cai melhor em mim,
Com esse jeans lavado e rasgado assim
E com esses tênis que pisaram o mundo que piso, enfim.

Eu quero viver o resto da minha vida assim:
Olhando pra frente e pensando que o agora
É o único momento que dura
Pra sempre.

O Vento Levou (O Sofrimento)

Uma flor nasceu.
Entre berros e enterros,
Choros e coros,
Prantos e desencantos.

Uma flor nasceu
E calou o silêncio.
Seu perfume no ar escreveu
Por extenso

A dimensão da eternidade
Que acaba de começar
Dentro do coração de quem
A tristeza se esqueceu de lembrar.

Além Alma (Vida longa a Paulo Leminski)

De lágrimas é feito o amor,
De felicidade ou de dor,
Carregam todo o sal
Desse oceano de amor colossal.

De vez em quando, em vez de tombo,
O difícil é alcançar o fundo.
É tanto espaço vazio, tanta água e tanto frio
Que até os peixes nadam pro leste
E os pássaros: nem um pio.

Pra que me serve essa imensidão,
Se o amor que, de tão, tornou-se vão?
Pra que me diz que não
E continuas aqui, então?

Vá em frente e me enterra nessa imersão.
Amarra meus pés no chão e me mostra
Que, além de me fazer viver,
Quem vai me matar
É meu coração.

(Des) Encontro

Um dia desses vou sair voando.
Na melodia das folhas,
No assobio do vento,
Na sinfonia da chuva.

E quando eu for,
Não volto mais.
Vou pra bem longe,
Onde não haja ar,
Onde não haja paz.

Vou me fartar dos excessos,
Me perder em regressos
E desescrever esses versos.

Só depois de curar essa dor
Que dói lá fora, só assim
Vou poder, finalmente,
Voar pra longe e pousar em mim.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Século XXI

Pílulas, placebos e tarja preta.
Do inferno ao inverno
E ao inverso do planeta.

Medicina, psicanálise e terapia.
Antes de ficar louco e mijar na pia,
Fujo de casa, vou pra Bahia.

Hipnose, acupuntura e comprimidos.
Essa dor na coluna, esse trabalho cumprido.
Mais uma dose e a viva a contracultura.

Drogas, tratamento de choque e pensões a pagar.
Nessa vida quem vive, já morreu.
Nessa vida minha cura,
Sou eu.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O Mundo Cresceu

Quando criança,
De uma trombada de nuvens
Nasciam trovões.

De uma mentira sincera,
Nasciam verdades.

Quando criança,
De uma besteira caseira,
Nasciam sorrisos.

De um amor profundo,
Nasciam amores mais
Profundos ainda.

Que pena que o mundo cresceu.

Cântico do Esquecimento

Um dia desses, encontrei na rua
Um clone meu.
Absolutamente idêntico.
Tinha as mesmas roupas que eu.
Uma sintonia excêntrica.

Voltei pra casa e encarei
O espelho.
Aquele sim era eu.
Redundantemente idêntico.
Irrefutavelmente diferente.

Todos os dias,
Sou vários.
Mas quando procuro por mim,
Não existo mais.

Barcelona

Eu não escrevo.
Apenas deixo a poesia
Se escrever sozinha.

De Mudança (Para Sempre)

Suas mãos ainda pesam sobre
Meu peito.
Sua voz ainda dança em círculos com
O vento.

A cama parece não ter
Fim.
Meu sofrimento também se sente
Assim.

Aquele vasinho de violetas,
Ainda rego.
Mas meus olhos secaram de tanto
Pranto.

Um dia desses abri meu
Peito
E escutei um som suspeito:
Som nenhum.

Num instante repente,
O céu se abriu, o chão caiu
E eu subi num voo chocante
Sem destino aparente.

(...)

Suas mãos agora repousam sobre
Meu peito.
Sua voz ecoa ouvido adentro
Numa valsa de redenção.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Se eu ficar as coisas vão melhorar?

Ontem choveu 15 dias.
Sem trégua aparente,
Como um longo repente,
De longas sentenças e
Orações frias.

O céu não vai mais abrir,
O sol não vai mais sorrir.
O guarda-chuva é pequeno demais,
A tempestade agora corre atrás.

Antes eu trazia um motor no lugar
Do peito.
Afogado, seu barulho não afasta
Nem a mais nefasta formiga que
Repousa sobre os ponteiros do relógio.

O tic tac do passado mantém
Meu corpo sentado e declama
Em duas sílabas o sibilo do silêncio,
Intenso como o mais sóbrio grito,
Como há de queimar um incenso.

Creio que seja a hora de parar
De tentar me entender, de descobrir
O fundamental e guardar todo esse mistério
Num fundo mental.

Se um dia me julguei culto,
Joguei com insultos e bati a porta,
Hoje durmo com a revolta e à espera
De um vulto ou da tua volta.

Vivórcio

O barulho é dos gatos
Andando na calha.

Dos raios cortando o céu.

As memórias são do seu vestido
Branco,
Seu sorriso brando
E um
Véu.

Começo

Quando acordei,
Notei você ao lado meu.

E, naquela hora, enquanto
Esperava o Sol nascer,
Quem nasceu fui eu.

Fora de órbita

Resolvi sair pra descobrir
O mundo em si.

Só preciso fugir do mundo
Que há em mim.

Cabeças de domingo

Ah, as manhãs de domingo.
Nem preciso olhar
Pro lado

Pra adivinhar
Que o dia nasceu
Nublado.

Ano Novo

Outro ano começou.
Mais um presente
De liquidação.

Não aceitam trocas,
Nem devolução.

Por que escrevo?

Fazer poesia é descobrir o mundo que se esconde do mundo que há em nós.

Pra Depois

Essa cama / Pra dois, / Fica melhor / Pra depois.