sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Ala

Não aceito menos que seu inteiro.
Você e todo seu todo.
Seus descasos e seu cheiro.
Eu com o seu eu, do seu modo.

Quero seus momentos de aflição,
Seus ataques de amor e paixão.
Faço questão das suas estranhices,
Das suas manias e todas as maluquices.

Ainda sim, quero todos os seus poros,
Seu corpo de ponta a ponta,
Pra navegar pelos dois polos e cair no seu colo.
Desejo seus segredos e o modo como você os conta.

Não aceito menos que seu inteiro,
Seus quadros pintados na parede da sala.
Nossas escovas de dente no banheiro,
Nossos corações batendo no mesmo compasso, na mesma ala.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A Breve Rotina De Um Grande Homem

Trabalhando. Estudando. Namorando. Nada de descanso. Escrevendo. Sentindo calor. Suando. Brigando com São Pedro por causa da chuva. Chegando em casa molhado. Batendo o guarda chuva no poste. Andando em ônibus lotado. Lamentando a vida. Tentando ser feliz no tempo que me resta.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Caixa Preta

Quem nunca fez um balanço de si mesmo?
Pegando momentos aleatórios, memórias a esmo?
Relembrando registros passados,
Resgatando aqueles velhos anos dourados?

Quem nunca viveu a vida de trás pra frente?
Andando de costas, dando de ombros para quem enfrente?
Olhando pelo retrovisor e abrindo o teto solar,
Curtindo a ventania da rotina, sem medo de se machucar?

Quem nunca fez tempestade em copo d'água
E trovejou com força em cima de uma velha mágua?
Chovendo insistentemente sobre o chão já seco,
Tentando encontrar uma saída naquele mesmo beco?

Quem nunca esperou o telefone tocar de novo
E se surpreendeu com o fato desse mundo ser um ovo?
Indo ao encontro daquela mesma lembrança,
Jogando com a sorte, sem esperança?

Quem nunca pensou em abrir sua própria caixa preta
E teve medo de reescrever o passado à caneta?
Quem pensa constantemente em fechá-la para toda a eternidade
E deixar que os escombros do presente camuflem a posteridade?

A Vitória

Meus joelhos tremem.
Abalaram-se com a solidão.
Meus olhos ardem.
Fui cegado pela escuridão.

Assopro alguns cortes,
Traço novos planos.
Vou rumo ao norte,
E assim se passam os anos.

O tempo está chuvoso,
Como previsto.

O tempo está chuvoso,
Mas eu não desisto.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Quando a saudade me pega em cheio, / Vou pra terceira margem do rio. / Procuro abrigo em teu seio, / Fico vazio.

Carnaval (Não Se Faz Mais Amigos Como Antigamente)

Chega de fantasias, de calor
Em demasia.

Me cansei dessa experiência,
Dessa incrível inconsistência
E dessa imbatível falta de
Elegância.

Que se foda o sexo frágil,
Que se exploda o mais ágil.

Vão sozinhos desfilar pela avenida,
Acabar com a fome do mundo e,
Em seguida, se esquecer de que a
Vida recomeça na segunda.

No carnaval nunca se está só.
No carnaval sempre está sol.

E as máscaras vão caindo,
Enquanto a música vai tocando.
No ouvido, o som vai explodindo.
No coração, fica só aquele
Zumbido.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

as coisas não são DESSE tamanho.

Uma, duas. Até mesmo três
Dimensões.
Espaço-tempo relativo, em vez
De imersões.

Estradas que levam a um
Lugar comum.
Destino que sela o caminho a
Lugar nenhum.

Grandes interpretações, infinitas
Transformações.
Sentidos literários, memórias aflitas,
Transmutações.

Felicidade escondida em
Tristeza.
Surpresa rendida sem
Destreza.

Problemas que se escondem
Debaixo da cama.
Assombram e assopram
A esperança que chama.

Traumas trancados em
Jaulas.
Remorsos trançados em
Salas de aula.

As sombras que dançam em
Valsa,
Não vão mais ventar ou inventar
Outra causa.

Viver não é
Tão
Estranho. As coisas
Não são DESSE
Tamanho.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Inverneiam e Iluminam

Entre os lençóis
Brilharam,
Um milhão de sóis que
Apagaram

Cada um de nós,
Que a sós e
Trançados
Em complexos nós,

Não passa de perplexos
Reflexos inversos
Da solidão que
Inverneiam o vão,

Iluminam
O
Coração e se
Vão.

Cedo e Sentado

Voltei ao passado e olhei
Em frente
Procurando quem enfrente,
Sem medo latente,
Os monstros da gente.

Tentei entreter o presente
Para não parar de repente
E deixar a diferença evidente
Entre ter e ser.

O futuro é incerto
E, decerto,
Implacável.
Meu futuro é ser certo
E, de perto, infalível.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Meu Futuro Me Condena (Monólogos De Um Assassino Póstumo)

Olhei pra trás
Procurando me conhecer
E reconhecer,
Mas não encontrei nada mais,
Nem mesmo quem costumava ser.

Serei eu
Um assassino eterno,
Trajado em terno,
Que do futuro se esqueceu
E no escuro do passado faleceu?