terça-feira, 29 de abril de 2014

re-partir

esquecer o outro
em partes
a cada passo
fragmentá-lo
em menores
pedaços
criar caixas
com o vazio
dos abraços
a fim multiplicar
e otimizar
os espaços
guardar tudo
em local
de difícil alcance
pra que o cansaço
não compense
o acesso.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

destino

passamos tão rápido
um pelo outro
como se dentro
de trens
em sentidos opostos
somando velocidades
cada um com seu
corpo-vagão
de janelas bagagens
pessoas e portas-automáticas
curiosas essas viagens
em que se cruzam
apenas os olhares
e nada se pode fazer
com os trilhos
que dormem deitados
tranquilos
e insuportavelmente
paralelos.

por favor

tempo 
paciência
isso não é 
coisa que se peça
viver é pressa
esperar não compensa
se não for pra ser agora
só me dá licença.

alto

amar dá vontade
de subir
mudar o desenho
das nuvens
seja lá qual for
tomar fôlego 
e escalar o Everest
numa tarde
ver se na Lua
realmente muda
a gravidade
dá vontade de viver
no ápice
fazer de cada passo plano
salto vertical até o topo
como uma trilha em pé
é aí que a armadilha se dá:
o amor tece a corda
mas não amortece
a queda.

velocidade

aos físicos 
ficou destinada 
a descoberta
da velocidade da luz
pois que fique
por conta dos poetas 
descobrir a do escuro.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

pouso

tudo que cai
voa
brevemente
paira
sem que pare
totalmente
até chegar
tudo que vai
pousa
sempiternamente
no chão
ou em
algum lugar.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

ampulheta

somos ampulhetas
esperando a areia
cair de cima
para soterrar
lentamente
o vazio
mesmo assim
nunca seremos
completos
sempre
vai restar
a outra metade
e o tempo
vai continuar
acabando.

mudo

poucas vezes
nos vemos
no elevador
quase nunca
dizemos nada
enquanto isso
o elemídia
fala sobre
a alta do dólar
o sobe e desce
da bolsa
e o preço
do petróleo
atualmente
você desce
e eu subo
pensando
em como
até seu
silêncio
é interessante.

terça-feira, 22 de abril de 2014

desculpa

é pouco
sentimento
pra tanto
sinto muito.

de ontem em diante

hoje acordei
e ainda
era ontem
o despertador 
não tinha
tocado
tudo estava 
por nascer
hoje acordei
no passado
e tudo que
já passou
sequer tinha
chegado.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

cansaço

dizer seu nome
completo
me faz abrir
a boca
sete vezes
emendar
as aberturas
dá um bocejo
de mais
ou menos
dois segundos
ando preferindo
bocejar.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

tempestade

caia o raio
cem vezes 
no mesmo
lugar
o raio
que parta
em pedaços
todo esse
azar
e faça
das noites
em claro
caminho
para você
voltar.

chumbo

deixar no papel
tudo aquilo
que pesa
no peito
quilo por quilo
a poesia ainda
vai dar um jeito.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

pretérito pretexto

ando
meio lá
meio cá
como
se todo
o passado
fosse
pra já.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

ad infinitum

antigamente
era hábito
tirar foto
com mortos
maquiá-los
vestí-los
trazê-los
de volta
à vida
negar a ida
este poema
faz o mesmo
remonta você
ao meu lado
num retrato
bonito
que doi lento
mas traz você
sorrindo
até o infinito.

terça-feira, 1 de abril de 2014