quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

a distância entre entrar e sair

um labirinto
não deixa de ser estrada
projetada sobre
uma espécie de caos

a vida
não deixa de ser caos
protegida por
uma espécie de labirinto.

ensimesmado

eu insisto em acreditar
que o silêncio guarda algo
além de si próprio
talvez um conjunto
de notas e sons desconhecidos
que se arranjados de forma correta
dirão o que quero ouvir
mas não:
o silêncio é completo em sua ausência
nessa secura ajustada ao corpo
feito terno de alfaiataria
nessa medida exata que compreende
o caminho entre nada
e tudo que eu gostaria.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

imersão

ficaram lacunas a preencher
feito aquelas atividades de escola
ou quando o professor
dizia uma parte de uma palavra
e esperava a sala completar
mas você não diz nada
não escreve, não comenta
seu silêncio
tem a arquitetura exata
de um cubo de concreto
que todo dia eu amarro nos pés
e afundo
torcendo pra que alguma palavra sua
me salve

verão tudo menos você e eu

te esperei
até gelo virar água
daria tempo
de ter escrito
um romance contemporâneo
falando de um amor
que virou mágua
ou da liquidez dos dias
vai saber
em vez disso
espremo esse restinho
de poesia
e até mais ver.

química temporal

pra que ontem
não vire de hoje em diante
é preciso pressão
feito um diamante
que por pouco
não permanece
carvão.

trecho

só consigo ir
até certo ponto
e fico preso
a esse movimento
intermitente
feito o mar
se movendo
com suas
correntes.
a vida
escreve uma certeza
e eu a risco

pêndulo

o amor é um prédio
que oscila entre
remendo e remédio

grave a idade

tudo busca o chão
tudo está em queda
quer você queira
quer não.
antes do choque
grave a idade
e o tempo
que a coisa
voou.
Meu coração é o oceano preso num aquário.

olhos cheios de dedos

quando
nos vimos
nossos olhos
fizeram
com tato.